O título pode não parecer muito atraente, mas este filme é um belo e surpreendente trabalho, pioneiro em sua concepção, produzido em meio à moda da “Nouvelle Vague” e estrelada por uma das mais famosas atrizes francesas, Catherine Deneuve, que mais uma vez solta a voz e encanta o público.
Num reino distante vivia um rei (Jean Marais) que não tinha do que reclamar. Quando sua esposa morre, ela o faz prometer que ele só se casará novamente se encontrar uma mulher mais bonita que ela. O problema é que esta mulher está bem próxima: é a própria filha do rei! Para escapar do desejo incestuoso do pai, a princesa contará com a ajuda da fada madrinha e precisará fugir e se passar por pobre camponesa.
A história é uma adaptação do conto de fadas homônimo, que encantou o diretor Jacques Demy em sua infância. Catherine foi escolhida para viver a princesa, protagonista que passará por um aprendizado, e ainda deverá cantar, o que já havia mostrado que sabia fazer bem em ”Os Guarda-Chuvas do Amor”, filmado seis anos antes e também dirigido por Demy (ele e Catherine trabalharam juntos em quatro filmes).
O enredo vem de um conto de fadas escrito no século XVII por Charles Perrault, que hoje pode estar esquecido, mas que foi responsável por criar histórias inesquecíveis como Cinderela. Há uma interessante repetição aqui, pois o príncipe procura entre as mulheres aquela em que sirva um anel bem pequeno, pertencente à princesa. Em Cinderela, o anel é trocado por um sapatinho de cristal. Em “Pele de Asno”, tal situação dá origem ao número musical mais engraçado de todos, que mostra o que as moças foram capazes de fazer para afinar o dedo anular, a fim de caber o anel.
Muito do clima de contos de fadas vem da bela fotografia a cores, contando ainda com belos figurinos medievais e até cavalos coloridos que me lembraram de “O Mágico de Oz”. O filme também é carregado de momentos de comédia, trazidos em especial pela fada madrinha (Delphine Seyrig) que, além de ter um momento de glória cantando uma música, também diverte ao propor à princesa que ela exija presentes absurdos ao pai.
Os contos de fadas são histórias do folclore de vários países e que se espalharam pelo mundo graças à imprensa e ao cinema. Assim como nas fábulas há uma “moral da história”, nos contos há também muitos ensinamentos para as crianças, embora estes estejam mais velados dentro da história. Por exemplo, em “Pele de Asno” temos o tratamento do incesto por parte do rei e o preconceito que a princesa sofre enquanto está vestida com a pele do animal. Assuntos importantes para pessoas de qualquer idade, diga-se de passagem.
Veículo de aprendizado, escapismo, diversão despretensiosa ou obtenção de conhecimento, este peculiar filme francês capta com perfeição um mundo de imaginação nostálgica e simpática; um mundo de onde os adultos desejam nunca terem saído.
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